Grupo Literário Idiossincrasia
Fui convidada para participar de um grupo literário que propõe desafios literários, jogos intelectuais e estímulo à criatividade. Como não gosto de escrever e também não gosto de desafios (eheh), prontamente aceitei o convite. Que dúvida!! ;-)
Modo de Usar: Na data pré-estabelecida um dos participantes lança um tema para os demais integrantes desenvolverem. Os demais participantes têm o prazo de duas semanas pra enviar o seu material, que pode ser um conto, prosa, dissertação, poesia, letra de música, roteiro, enfim... o que a criatividade mandar. Logo, os participantes analisam o material dos outros e mandam seus palpites. E assim, sucessivamente, cada participante do grupo envia um tema. Todos ficam envolvidos com o ato de escrever e analisar o material dos outros. Deste modo formamos um ciclo criativo, que além de nos estimular a troca de idéias, tem por objetivo o desenvolvimento do dom de fazer arte com a palavra.
Primeiro Tema: o primeiro tema lançado no grupo foi Destino. Vamos combinar: quem não gosta de divagar a respeito??Enfim... comecei a escrever como uma louca, seguindo as ideias que borbulhavam a minha mente incessantemente. Depois de um tempo comecei a perceber, no decorrer da escrita, que estava abordando o tema de uma forma muito densa e pesada. Não era essa a minha intenção inicialmente... mas foi inevitável, foi o que fluiu e eu registrei.
Então, salvei a minha criação existencial-filosófica e resolvi partir do zero. Ao som de músicas instigantes, tentei começar outra dissertação, tentei fazer um poema, uma letra de música (pausa dramática)... tudo em vão! Ia desligar o micro (literalmente! já estava com o mouse sob o botão 'desativar') quando fui dominada por uma súbita inspiração... não podia deixar aquele momento passar. Abri uma nova tela no word e comecei a escrever um conto sobre uma menina que tenta descobrir o que é o destino.
Ao contrário do meu primeiro instinto criativo, este segundo momento começou a abordar o tema de forma bem leve e, quem sabe, bem-humorada... de qualquer forma, o tema não fica pesado para quem lê. Segue abaixo a minha contribuição para o tema Destino ao grupo literário. Sintam-se a vontade para fazer qualquer crítica. Espero que curtam a leitura!
***
Ana Maria e o Destino
Desde muito pequena Ana Maria ouvia falar em destino. Sua mãe costumava levá-la para passear de carrinho durante as tardes ensolaradas da primavera. Tia Claudete, amiga inseparável de sua mãe, estava presente em todos os passeios. Logo a pequena menina acostumou a desfrutar de seu passeio ao som de fofocas, intrigas e difamações. Precocemente ela aprendeu a desconectar-se do ambiente quando a conversa não era do seu agrado.
Ana Maria tinha os olhos atentos e todos os sentidos apurados aos possíveis, e inimagináveis, estímulos que aqueles passeios poderiam lhe proporcionar. Gostava de observar as pessoas que andavam no parque e imaginar para onde elas estavam indo. Esbaldava-se com o colorido das flores e adorava sentir aquele perfume de jardim. Via crianças de todos os tamanhos correndo de um lado para o outro, velhos que alimentavam os pombos, cachorros brincando com seus donos. Tentava entender o mundo a sua volta e o papel que cada um desempenhava. Até então, o que mais lhe intrigava era o porquê dos pombos balançarem a cabeça pra trás ao andar. Será que eles não sentem dor no pescoço?
Suas inúmeras descobertas eram acompanhadas por conversas do tipo:
- Você soube o que houve com a Diamantina?
- Não... me conta!!
- Flagrou o marido com o padeiro... dizem que foi o maior vexame!
- Sério? Coitada da Diamantina!
- Pelo visto o destino dela é ser enganada, a pobre! Desde o colegial ela pega os namorados com outra...
- Nesse caso foi com outro!
- O pior você não sabe! Ela encontrou um baguete de pão cheio de laços de fita escondido na garagem.
- Não brinca!!
- Há quem diga que dentro do baguete tinham dois anéis com os nomes deles gravados.
- E o que foi que ela fez?
- Ela anunciou, com toda a calma e serenidade do mundo, que a partir de agora só vai comprar pão na padaria da rua de baixo. Isso depois de ter expulsado o padeiro da casa dela a baguetadas!
A conversa seguia enquanto Ana Maria tentava entender por que o destino da pobre Diamantina era ser enganada. Afinal, o que é destino? Qual é a sua influência? Por que o dela é ruim? Foi o destino que gravou o nome deles no anel?
No dia seguinte a cena se repete.
Ana Maria observava uma linda borboleta, que voava ao seu redor, quando teve seu momento de ternura interrompido por mais um plantão 24hs:
- Lembra da Gertrudes?
- Aquela que perdeu tudo no jogo do bicho?
- Essa mesma! Acredita que agora ela abriu uma empresa que fabrica apontador de lápis e tá riquíssima?
- Não acredito! Tem gente que tem uma sorte... impressionante!
- É! Quem diria que ela ia enriquecer depois de sair da cadeia?!
- Pois-é! Nós aqui nos matamos trabalhando e sempre na mesma. Só pode ser destino...
De novo a palavra destino chegava aos ouvidos de Ana Maria sem que ela soubesse o seu real significado. Será que o destino é bom só pra quem tem sorte? Por que uns tem sorte e outros não, como a pobre Diamantina que era sempre enganada?
Inocente, Ana Maria mal sabia falar e já sentia o peso do mundo nas suas costinhas. Tantas dúvidas se multiplicavam à medida que ela desbravava aquele mundo de gigantes. Embora estivesse recém aprendendo a se expressar, ela compreendia o que as pessoas lhe diziam. Contudo, o significado da palavra destino parecia tão complexo quanto aprender a andar.
Dizem que Ana Maria cresceu sem entender o significado da palavra, que sempre lhe pareceu tão amplo e, ao mesmo tempo, pouco específico na prática. Houve um tempo em que ela pensou que destino era tudo aquilo que é revelado através de premonições. Até o dia em que foi viajar e viu escrito “destino” na sua passagem, casualmente ao lado do nome da cidade a qual se dirigia. Sabe-se que a partir desse dia ela largou de mão as suas indagações e não quis mais saber de nada a respeito! Passou a interessar-se por Ciências Exatas e aos vinte e dois anos de idade casou-se com Destino Abraão de Souza, cujo os pais eram ateus. Tiveram três filhas: Claudete, Diamantina e Gertrudes.
Veja outras abordagens deste tema no site do
grupo literário Idiossincrasia:
http://grupo-literario-idiossincrasia.blogspot.com/
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