Dando continuidade a série de contos cujo enfoque é as loucuras do dia-a-dia, publico mais um conto baseado na vida real. Antes que alguém questione: nem todos os contos aqui publicados foram vivenciados por mim, a autora da loucura desvairada, em muitos deles fui apenas uma testemunha ocular, em outros sequer estive presente no local da ação, mas soube do ocorrido por terceiros (eheh).
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A Avó e a Bisavó
Avó e bisavó, mãe e filha, almoçavam juntas uma vez por semana, acompanhadas de suas duas (bis)netas. Depois do almoço, a avó, elegantézima, lia a zerohora enquanto a bisavó ficava sentada ao seu lado, calada. Lá pelas tantas, a cena comum a todos aqueles almoços se repetia.
- Mamãe!!!!
Dizia a avó para a bisavó, em um daqueles súbitos gritinhos agudos, que dói aos tímpanos alheios e por pouco não quebra as vidraças mais próximas. Diz a lenda, inclusive, que uma vez chegou a rachar os cristais da casa de campo da bisavó.
- O quê??
Respondia a bisavó, que era quase surda, mas também assustada com o grunido estridente da avó, sua filha. Imagina as crianças inocentes ali presentes, as tais (bis)netas. Elas não sofriam de nenhum problema de audição. Pelo contrário, tinham ouvidos mais sensíveis comparado ao dos adultos. A bisavó dava um breve pulo-de-susto no sofá, antes de responder a avó. As ditas duas crianças, coitadas, davam um pulo tão alto que às vezes atingia 4 metros de altura, segundo o relato de testemunhas, tamanho o susto que levavam. (Sempre, toda a semana essa cena se repetia, da mesma forma. Só mudavam as roupas e o clima)
- Olha só quem morreu!!
Dizia a avó, lendo os anúncios fúnebres e religiosos da zero-hora.
- O quê?
- O fulando! (aí poderia ter duas versões: ou era a história de uma família que sofreu muito, passou muita dificuldade, lutaram, lutaram, e hoje são uns Gerdau da vida. Ou então é sobre o parente, do primo, do irmão, da filha, de um albuquerque desses da coluna social)
- Quem?? (cada vez que a bisavó questionava a avó, ela ficava mais inquieta pra saber logo de quem se tratava o assunto)
- O fulado! Filho da beltrana, casada com o ciclano de tal, que é irmão da prima... blá-blá-blá (aí vem a árvore genealógica do finado fulado, tão precisa que era capaz de ter parentes que nem o próprio morto conhecera em vida).
Depois de três horas de explicações, quanto à origem do finado, procedência, atividades desenvolvidas em vida, a conversa era encerrada com o comentário clássico da bisavó, provavelmente esgotada com toda essa conversa.
- Ahh (pausa dramática) eu achei que ele já tinha morrido!
Respondia a velhinha, quase suspirando. Nunca se soube se ela realmente entendia de quem a avó estava comentando ou se realmente achava que o finado já estava morto há muito tempo? Abafa o caso!
As famigeradas duas crianças, a essa altura do campeonato, tinham fugido dali sorrateiramente para a sala de televisão, assistir ao Chaves.
- Que coisa mais mórbida sempre ficar falando em quem morreu. Pra quê ela lê isso em voz alta? – questionou uma das (bis)neta, sentada em uma das cadeiras de balanço, durante o intervalo do chapolim colorado. Logo iria iniciar o Chaves.
- Vai quer que é porque realmente ela conheceu essas pessoas!? – indagou a outra (bis)neta, sentada em outra cadeira de balanço, ao lado da irmã, entre um balanço e outro da cadeira de balanço, afinal, é pra isso que servem as cadeiras de balanço.
- Toda semana tem um conhecido que morre, daqui a pouco não vai restar mais ninguém pra ela comentar! – concluiu uma delas.
E assim, sucessivamente, essa história continuou se repetindo enquanto viveu a bisavó.
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Falando de Sexo com a bisavó.
Passaram-se anos, os almoços semanais continuavam reunindo a avó, a bisavó e as duas (bis)netas já adolescentes. Embora ainda houvesse o momento de leitura dos anúncios fúnebres e religiosos, alguns assuntos foram incorporados nas conversas das quatro. A (bis)neta mais velha estava namorando um rapaz que era seu colega de aula há alguns meses. Chegou o dia em que a bisavó achou que devia orientá-la quanto a sua conduta no namoro.
- Porque o Ciclanildo (finado marido da bisavó) nem pegava na minha mão antes do casamento!
- Mas eu nem penso em casamento vozinha. Sou muito nova! – tentava desconversar a (bis)neta.
- Sexo então, minha filha, só depois do casamento! Deus o livre fazer sexo antes de casar! - dizia a bisavó, veementemente.
- Claro! E só pra reprodução! – respondeu a jovem (bis)neta.
Este foi o breve diálogo sobre sexo que a jovem teve com a sua bisavó. A avó optou por não se manifestar no assunto (o que foi um milagre), assim ela se poupava de saber se a neta havia cedido aos encantos do namorado ou não. Tempos modernos.
Um comentário:
Ahahahah!
Deviam ser almoços e tantos, esses!
Agora, a super conversa sobre sexo é que foi a melhor! Pobre da bisneta! Se bem que ela achou a melhor maneira de calar a velha sobre o assunto! Eheheh!
Bjs, miga!
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