Caro Vizinho do 302:
Já que você mencionou a paz na vizinhança, vamos fazer um acordo em benefício a todos:
Já que você mencionou a paz na vizinhança, vamos fazer um acordo em benefício a todos:
Por gentileza, VAMOS TODOS RESPEITAR A TRANQÜILIDADE NA VIZINHANÇA.
Gostaríamos de solicitar que você não coloque músicas num volume prejudicial a paz às 7hs, 8hs da manhã de qualquer dia da semana, principalmente aos sábados e domingos que a maioria das pessoas descansam e dormem até tarde.
Da mesma forma, procure manter o nível de suas desavenças pessoais, de modo que os moradores deste edifício e as pessoas que andam na rua não tenham que participar do episódio incondicionalmente. O que incluí também os seguranças, que interrompem o seu trabalho e ficam próximos ao nosso edifício (abaixo das janelas, olhando para cima) na dúvida se devem intervir na briga ou até mesmo chamar a polícia - já que temos a legítima impressão de que o apartamento está sendo depredado e de que um dos participantes não sairá vivo da briga (sem exageros). Ressaltamos que estes episódios são muito desagradáveis e não eram costumeiros na vizinhança até então!
E para finalizar, procure manusear as janelas de seu apartamento com mais sutileza, o barulho produzido por tal ato acaba sendo inconveniente em determinados horários do dia.
Concordamos que a paz na vizinhança deve ser mantida por isso contamos com a sua colaboração!!!
Da mesma forma, procure manter o nível de suas desavenças pessoais, de modo que os moradores deste edifício e as pessoas que andam na rua não tenham que participar do episódio incondicionalmente. O que incluí também os seguranças, que interrompem o seu trabalho e ficam próximos ao nosso edifício (abaixo das janelas, olhando para cima) na dúvida se devem intervir na briga ou até mesmo chamar a polícia - já que temos a legítima impressão de que o apartamento está sendo depredado e de que um dos participantes não sairá vivo da briga (sem exageros). Ressaltamos que estes episódios são muito desagradáveis e não eram costumeiros na vizinhança até então!
E para finalizar, procure manusear as janelas de seu apartamento com mais sutileza, o barulho produzido por tal ato acaba sendo inconveniente em determinados horários do dia.
Concordamos que a paz na vizinhança deve ser mantida por isso contamos com a sua colaboração!!!
***
Para manter-se a tolerância, é necessário manter-se tolerante...
Basta uma pitada... (e tudo vai pelos ares)
Basta uma pitada... (e tudo vai pelos ares)
Era uma sexta-feira à noite, quase meia-noite, quando a Política da Boa Vizinhança, sempre tão educada e diplomata, evitou um desagradável confronto entre os vizinhos do 3º e 4º andar, que estava prestes a eclodir a qualquer momento.
A Jovem Loira* chamou sua irmã mais velha ao seu quarto para mostrar-lhe uma música que recém baixara em seu lentium – modelo último-tipo da época (ou seja: uma carroça nos tempos de hoje). Este foi o primeiro ato que desencadeou a Carta Polêmica.
Talvez por pura peripécia dos bitis and bytes, responsáveis pela velocidade de download, a música tenha demorado tanto para chegar aos ouvidos das duas irmãs e, desta forma, no tardar da hora, ameaçaram a já existente Convivência Pacífica entre vizinhos.
Então, como se tratava de uma música que as duas irmãs adoravam e vibraram muito ao incluí-la no seu acervo, lógico que o volume da mesma só poderia estar acima do tolerável pelo condomínio naquele horário. Como raramente elas perturbavam os vizinhos, não imaginaram que o fato de ouvirem apenas UMA música com o volume um pouco mais alto, no início da madrugada, poderia ocasionar reclamações. Ainda mais de quem não teria o mínimo direito de reclamar!
A música recém terminara e o telefone começou a tocar. As duas irmãs se olharam. Quem poderia ser naquela hora?
- Algum vizinho reclamando do som alto? Será?
- Mas foi apenas uma música! – retrucou a Jovem Loira*.
A irmã mais velha, de temperamento “faca-na-bota”, respirou fundo e atendeu ao telefone – pronta para “soltar os cachorros”, se necessário:
A Jovem Loira* chamou sua irmã mais velha ao seu quarto para mostrar-lhe uma música que recém baixara em seu lentium – modelo último-tipo da época (ou seja: uma carroça nos tempos de hoje). Este foi o primeiro ato que desencadeou a Carta Polêmica.
Talvez por pura peripécia dos bitis and bytes, responsáveis pela velocidade de download, a música tenha demorado tanto para chegar aos ouvidos das duas irmãs e, desta forma, no tardar da hora, ameaçaram a já existente Convivência Pacífica entre vizinhos.
Então, como se tratava de uma música que as duas irmãs adoravam e vibraram muito ao incluí-la no seu acervo, lógico que o volume da mesma só poderia estar acima do tolerável pelo condomínio naquele horário. Como raramente elas perturbavam os vizinhos, não imaginaram que o fato de ouvirem apenas UMA música com o volume um pouco mais alto, no início da madrugada, poderia ocasionar reclamações. Ainda mais de quem não teria o mínimo direito de reclamar!
A música recém terminara e o telefone começou a tocar. As duas irmãs se olharam. Quem poderia ser naquela hora?
- Algum vizinho reclamando do som alto? Será?
- Mas foi apenas uma música! – retrucou a Jovem Loira*.
A irmã mais velha, de temperamento “faca-na-bota”, respirou fundo e atendeu ao telefone – pronta para “soltar os cachorros”, se necessário:
- A-lô! – disse ela, pausadamente, com voz de poucos amigos.
- Será que dá para manter a paz na vizinhança... – disse, sem jeito, uma voz masculina, cuja idade a menina não conseguiu determinar.
- Como é que é? – respondeu ela, quase soltando os cachorros.
- Dá para – tosses – bem eu... quero dizer que... dá para manter a paz na vizinhança... baixar o volume do som...
- Quem é que tá falando?
- Quem é? – insistiu ela, como se pudesse impedi-lo de desligar sem se revelar. (o que, de fato, conseguiu)
- É do 302... (nuvens negras se formaram ao som de trovões)
- Nós só ouvimos UMA música alta, não vamos deixar o volume nessa altura... – garantiu ela, irônica e educadamente, com a seguinte mensagem subliminar incluída: quem é você para pedir silêncio, quanta intolerância logo de quem: o rei do barulho... vai se enxergar!
- Que desaforo! – disse ela furiosa, logo após bater o telefone no gancho.
- Quem era?
- O tal do 302...
- O quê? O “James Bond Fracassado”? Que cara-de-pau!
James Bond Fracassado era o apelido que a Jovem Loira* deu ao vizinho do 302 logo depois que ele se mudara. Um coroão que se sentia o Dom Juan de Marco do pedaço... Seus olhos castanho-esverdeados pareciam estar sempre armados com aquele olhar 43, seguido de uma das sobrancelhas levantada estrategicamente: o gás da coca!
Com aquela “pochete” (referindo-se a barriga flácida e levemente protuberante do vizinho que se julgava o George Clooney com abdominal de tanquinho), é um decadente: fracassado... debochava ela, enquanto procurava um apelido que melhor definisse o recém chegado vizinho que galanteava todas as mulheres, como se ninguém resistisse ao seu “charme”.
James Bond Fracassado de fato era o Rei do Barulho, capaz de fazer com que os demais moradores daquele palácio se sentissem em um pardieiro. Adorava colocar música tradicionalista e sertaneja “num volume prejudicial à paz” cedo da manhã, principalmente aos finais de semana. Ao passo que tarde a noite, bem naquela hora em que a maioria das pessoas está “ferrando no sono”, tinha o costume de fechar as janelas do seu apartamento bruscamente, dando a impressão de que as mesmas estavam sendo arrancadas (sutil como um trator!).
Como se não bastasse tudo isso e os inconvenientes olhares de conquistador-barato, vivia brigando com a sua namorada, altas horas da madrugada. Pareciam demolir com o apartamento. Ela, que posteriormente foi apelidada de Tapinha não dói pela Jovem Loira*, certamente apanhava dele – concluíram todos os vizinhos daquele diâmetro. Não entendiam como continuava com ele depois destas brigas. Vai ver que ela representava a típica mulher descrita por Nelson Rodrigues: a que gosta de apanhar!
Conclusões acerca da vida íntima (e constantemente exposta) do dito casal a parte, voltamos àquela sexta-feira. Após o telefonema, as irmãs se enfureceram com a cara-de-pau do vizinho mais barulhento do palácio em pedir silêncio. Vê se pode?! Quem ele pensa que é?
- Vamos escrever uma carta! – sugeriu a irmã mais velha, com os olhos brilhantes, sedentos por vingança.
- Vamos! – a Jovem Loira* adorou aquela idéia desde o início.
As duas sentaram-se em frente ao lentium e começaram a digitar um esboço: "Já que você mencionou a paz na vizinhança, vamos fazer um acordo em benefício a todos..."
- Ótimo!!! - Davam gargalhadas enquanto escreviam e, enfim, podiam desabafar as inconveniências que tinham de aturar em nome da “Política da Boa Vizinhança”... Todavia, as irmãs não iriam perder a classe. Jamais! - Ele não vai ter um “ai” pra falar de nós!
No início do segundo parágrafo, a irmã que antes dera a idéia da carta, toda entusiasmada, foi vencida pelo sono atrasado da semana. Recolheu-se aos seus aposentos, dormir o sono dos justos. A Jovem Loira*, entretanto, havia perdido o sono: ela odiava injustiças e não iria deixar barato ao vizinho do andar de baixo. Agora vamos ver se ele vai continuar com essa cara deslavada...
No dia seguinte, ambas tinham que trabalhar cedo da manhã. Durante o café, a Jovem Loira* mostrou a carta a sua irmã – mal conseguiram comer, as gargalhadas.
- Agora, já que eu escrevi a Carta, tu coloca em baixo da porta dele. – ordenou a Loira.
- Combinado! – respondeu a irmã faca-na-bota, e assim o fez.
Dias depois, soube-se quem realmente ligara naquela noite: o filho do James Bond Fracassado, que às vezes ia dormir na casa do pai galanteador-barato. Presume-se que ele não deveria imaginar os episódios desagradáveis que ocorriam ocasionalmente naquele apartamento...
- Ah! Um dia ele ia ter que saber o pai que tem... A gente fez um favor! – isentaram-se as irmãs.
Depois do dia da Carta, o coroão metido a “Ele é o bom” parou com as brigas desagradáveis – deixando a vizinhança mais leve (e longe do dilema: “devo ligar para a polícia?”). Tempos depois, mudou-se para outras vizinhanças. Teria sido constrangimento ou ele haveria encontrado uma casa com isolamento acústico? Ninguém soube ao certo.
No início do segundo parágrafo, a irmã que antes dera a idéia da carta, toda entusiasmada, foi vencida pelo sono atrasado da semana. Recolheu-se aos seus aposentos, dormir o sono dos justos. A Jovem Loira*, entretanto, havia perdido o sono: ela odiava injustiças e não iria deixar barato ao vizinho do andar de baixo. Agora vamos ver se ele vai continuar com essa cara deslavada...
No dia seguinte, ambas tinham que trabalhar cedo da manhã. Durante o café, a Jovem Loira* mostrou a carta a sua irmã – mal conseguiram comer, as gargalhadas.
- Agora, já que eu escrevi a Carta, tu coloca em baixo da porta dele. – ordenou a Loira.
- Combinado! – respondeu a irmã faca-na-bota, e assim o fez.
Dias depois, soube-se quem realmente ligara naquela noite: o filho do James Bond Fracassado, que às vezes ia dormir na casa do pai galanteador-barato. Presume-se que ele não deveria imaginar os episódios desagradáveis que ocorriam ocasionalmente naquele apartamento...
- Ah! Um dia ele ia ter que saber o pai que tem... A gente fez um favor! – isentaram-se as irmãs.
Depois do dia da Carta, o coroão metido a “Ele é o bom” parou com as brigas desagradáveis – deixando a vizinhança mais leve (e longe do dilema: “devo ligar para a polícia?”). Tempos depois, mudou-se para outras vizinhanças. Teria sido constrangimento ou ele haveria encontrado uma casa com isolamento acústico? Ninguém soube ao certo.
A Carta, contudo, ficou salva para sempre no HD do lentium, sendo transferida para outras gerações de HD, continuamente...
(*)= por motivos óbvios, todas as protagonistas no meu blog são loiras... eheh
4 comentários:
Ahahahahahahahahahah!
Viu só, a jovem loira e sua irmã mais velha acabaram por fazer um bem para a humanidade... rssss!
Bah, nem me lembrava mais das histórias do James Bond fracassado!
Agora, vou te dizer uma coisa... hoje em dia que estou me encaminhando aos 'inta', aprendi a valorizar muito bem a necessidade do silêncio dos vizinhos para a nossa necessidade, e estou cada vez menos tolerante com festanças na minha janela que vão até às 4 da matina, principalmente quando estas incluem um videokê em volume ensurdecedor e vozes agudas passando quilômetros longe da afinação... um dia ainda chamo a polícia!!! Rssss! (casualmente estes meus vizinhos em questão também gostam de se matar brigando, atiram objetos uns nos outros, uma maravilha!
Bjs!
É isso aeh!!!
Olá Mari, tava pesquisando sobre o livro "O mundo de sofia" e achei teu blog, mas o que acabou me chamando a atenção foi a "Carta ao vizinho do 302" uma curiosa e engraçada estória. Assim, te sugiro, quando quiser ouvir uma música em um volume mais alto a música que se chama "Ama teu vizinho como a ti mesmo" so Sá, Rodrix e guarabira, é genial! E quanto à pesquisa do "mundo de Sofia" , já trocando uma figurinha, gosto de um trecho onde ele explica o que é o mito:
"Um mito é uma história de deuses e tem por objetivo explicar porque a vida é assim como é. (...)Quandro troveja e relampeja, geralmente também chove. E a chuva era vital para os camponeses da era dos vikings. Assim, Tor era adorado como o deus da fertilidade.
A resposta mitológica à questão de saber porque chovia era, portanto, a de que Tor agitava seu martelo. E quando caía a chuva, as sementes germinavam e as plantas floresciam nos campos. Não se entendia porque as plantas cresciam nos campos e como davam frutos. Mas os camponeses sabiam que isto tinha alguma coisa a ver com a chuva. Além disso, todos acreditavam que a chuva tinha algo a ver com Tor. E isto fazia dele um dos deuses mais importantes do Norte da Europa."
Talvez me sobressaia a veia agrônomica...mas, é um bom livro...o que estás achando?
No mais, um grande abraço e boa sorte com os vizinhos!
Patrícia Binkowski
Oie Patrícia!
Valeu a dica da música! Vou baixar. Fiquei curiosa para ouvir e acho que pode ser útil no tratamento com os vizinhos malas! ;)
Qto ao livro, comecei a ler esse mês e estou adorando. Adoro filosofia!!! E vc, já terminou de ler?
Um abraço e bem-vinda ao blog!
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