Meu mundo expresso de várias formas... (my routes, my rules)

terça-feira, outubro 07, 2008

Aconteceu na Bolsa...

O batom e a chave se conheceram por acaso, em um pequeno compartimento da bolsa de uma bela moça. Na verdade, foi em um bolsinho no lado de fora da bolsa que tudo aconteceu - onde a bela moça costumava deposita-los quando saía lépida e faceira. Inicialmente só a chave era guardada ali, para que a bela moça pudesse localizá-la rapidamente quando estivesse voltando para casa. Nem sempre ela chegava sóbria, então a chave não poderia estar perdida entre as inúmeras coisas importantíssimas que ela transportava consigo. Precisava de um local seguro, de fácil acesso e localização!

A chave já estava habituada com o seu compartimento e não se importava de ficar isolada dos demais objetos residentes da bolsa. Mesmo com o passar dos anos, a solidão não lhe incomodava nem um pouco. Vivia como se estivesse em uma espécie de retiro espiritual, aproveitando o silêncio absoluto ao máximo, para meditar e cantarolar mantras.

Até que um dia, a bela moça resolveu guardar o batom no mesmo compartimento da chave, talvez pelo mesmo motivo: o batom era considerado um item útil, que deveria ficar em um local seguro, de fácil acesso e localização. Tal qual a chave, o batom também era capaz de abrir muitas portas. Não se sabe se foi esta a razão subliminar que motivou a bela moça a guardá-los juntos, ou meramente obra do “destino”.

O batom tentou fazer amizade com a chave logo que chegou ao “recinto”, mas ela não lhe deu a mínima atenção. Para ela, ele era apenas um intruso indesejado no seu pequeno castelo de couro-sintético. Ele bem que tentou mostrar sua bela cor, envolvente, capaz de deixar sensuais até os lábios das moças mais pálidas e apáticas... Ela simplesmente o ignorava. Era incapaz de perceber o seu brilho. Além de tudo, ficava irritadíssima com a freqüência que a bela moça o retirava (e o devolvia) a bolsa. Enquanto ela só conhecia a porta de casa, ele conhecia o mundo...

Com o passar do tempo, o batom percebeu que na verdade a chave tinha ciúmes dele com a bela moçaa dona da bolsa. Então, começou a se aproximar da chave aos pouquinhos, contando os causos que presenciava durante os “breves segundos” que ficava fora daquele universo delimitado por um zíper. A chave começou a se interessar pela prosa do batom, que contava tudo nos mínimos detalhes, sempre tão gentil e educado!

Embora tivesse a superfície dura e rija, a chave, no fundo, tinha o coração-mole. Afinal, os de aparência bruta também amam! E ela, que outrora julgara o batom fútil e superficial, enfim percebeu a cultura e inteligência que existia por trás daquela embalagem de plástico. Passou a se encantar por ele, que era capaz de iluminar os sorrisos das mais belas moças (e das não tão belas também!).

O batom, por sua vez, descobriu o quanto à chave era amável e delicada. Mesmo sem nunca ter conhecido outro lugar senão a porta da casa da bela moça; era como se ela possuísse um conhecimento milenar, já que entendia de “segredos” muito bem! Viu nela muito mais que uma amiga, era a chave do seu coração! E quando se deram conta, o batom estava quase derretendo e a chave quase envergando, de tanta paixão!

Desde então, o batom e a chave assumiram o seu romance e vivem muito felizes no seu castelo de couro-sintético. Pretendem casar o mais breve possível e sonham em morar numa bolsa nova - em um compartimento transparente (ou assemelhado), que os permita ver o mundo externo sem sair do lugar. Estão rezando para a bela moça atender o seu pedido! Já a bela moça, talvez não tenha a menor idéia da linda história de amor que ocorre dentro da sua bolsa.




ps: amar é: ver amor em tudo, até nos objetos inanimados! eheheh [já faz um tempinho que notei um certo “clima” entre o batom e a chave! :P]

3 comentários:

Sabrina A. Rosa disse...

"...e é claro que a história é verdadeira embora inventada – , que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial.”

Clarice Lispector

Lari Bohnenberger disse...

Ufa! Um post que não vai gerar discussão polêmica!!!
Eheheheheheheheh!
Amiga, não seja má, compre a bolsa com compartimento transparente para o casal! A chave, coitada, merece poder ver o mundo com seus próprios olhos, pobrezinha!
Eheheheh!
Adorei! Adoro teus surtos criativos!
Bjs!

Anelise Souza Lima disse...

ai que delícia de texto. que bom que estás voltando ao blog.
beijos, amiga!