Meu mundo expresso de várias formas... (my routes, my rules)

quarta-feira, março 19, 2008

O Juiz dos Divórcios

Dando início a mais uma série bloguística, hoje estréia “Os Textos que já Interpretei”, (pausa dramática)...

Pra quem chegou aqui de pára-quedas e nada entendeu, estou me referindo aos textos teatrais que já interpretei, no decorrer da minha iniciante - e aspirante - carreira de atriz. Esse texto em particular, que dará início a esta nova série recém saída do forno, também significou, no ano em que o interpretei, o início de uma nova fase da minha vida (violinos). Ele marcou o ano em que entrei para o TEPA – Teatro Escola de Porto Alegre – porque foi o dito que apresentei na prova de seleção, para o curso de formação de atores (yesss!).

MAS... antes de prosseguir com os devaneios extraídos diretamente do túnel do tempo, vamos a ele, o nosso carro-chefe de hoje! ;-)


***

Texto: O Juiz dos Divórcios, de Miguel de Cervantes
Tradução: Paulo Hecker Filho
Adaptação: Luiz Paulo Vasconcellos


Personagem – Mariana, jovem, bela e furiosa.
Situação – Mariana e seu velho marido estão diante do Juiz.


Mariana - O que quero, senhor Juiz, é o divórcio, divórcio, outra vez divórcio e mais outras mil vezes, divórcio! E antes que me perguntem de quem e por que motivo, eu lhe respondo já, já. Deste velho remelento aqui do meu lado.

Por quê?
Porque não posso mais agüentar as suas impertinências, a bexiga frouxa, a baba escorrendo, e todas as demais doenças, que são inumeráveis. Meus pais não me criaram para hospital nem enfermeira. Trouxe um dote excelente – excelente! - para a posse deste saco de ossos que vossa excelência está vendo aqui do meu lado.

Quando entrei em seu poder, o riso me enfeitava a cara e a dança me embalava o corpo. Agora, é o que o senhor vê. Uma ruína! Olhe bem os sulcos que tenho no rosto das lágrimas que derramo diariamente por estar casada com esse estrupício! Pois não me resta outra coisa que chorar. Chorar, chorar e chorar.

Nas repúblicas e reinos bem organizados, deveria ser limitado o tempo dos matrimônios. De três em três anos, por exemplo, deviam se desfazer os contratos, ou confirmar de novo, tal como se fazem com os aluguéis. Mas nunca durar a vida toda, com perpétua dor de ambas as partes.

As razões que relatei ainda não são bastantes?
Querem mais motivos?
Eu tenho. Dúzias, centenas, milhares. Para ele já é o inverno, para mim, a primavera. Pois que primavera é essa que me faz perder o sono todas às noites a aquecer panos e botijas para lhe pôr nas ancas?

E todos os dias, ter de estar sempre renovando as ligaduras, aplicando as salmouras, revendo as escaldaduras, cortando as unhas, limpando as orelhas, areando a dentadura, secando os corrimentos – não, isso não é vida para uma jovem na flor da idade! De noite, erguer o peito para não tossir. De dia, dar xaropes para que não se afogue.

E se em matéria de mau cheiro o hálito não bastasse, ainda tem os ventos que emanam de baixo dos lençóis e que são de tontear qualquer cristã. E se ao menos possuísse bens! Mas não, o que possui foi o que adquiriu com o meu dote. E, vejam bem, que nunca fui dessas tolinhas a se apaixonar por vestidos, leques, mantilhas, bordados e salamaleques.

É por isso, senhor Juiz, que eu imploro por justiça.

***

Coincidência ou não, o nome da personagem também é Mariana. Mas, já adianto que, graças as Divindades, não vivenciei tal situação (e espero nunca ter de passar por isso - bate na madeira!).

Por sinal, adorei esse texto! Foi muito divertido interpreta-lo. Ensaiei esse monólogo inúmeras vezes; li o texto da peça inteira, investiguei a vida e a obra de seu autor, criei perfil psicológico pra personagem, seus gestos, postura, entonações de voz... e mais todas aquelas coisas que os atores fazem, e piram, durante o laboratório (amo fazer laboratório!!).

No dia da prova, tava com aquele friozinho na barriga, típico, que caracteriza o momento pré-palco. Sem contar com toda a expectativa que envolvia a apresentação da prova. Afinal, tinha de impressionar a banca, pra poder ser aluna deles no curso de formação.
E não é que deu tudo certo?!

Fiquei sabendo do resultado no mesmo dia e fui direto pra gandaia comemorar!
O curso de formação se seguiu durante todo aquele ano, e foi ótimo. Adorei!!!!
Aprendi muitas coisas. Já tinha feito outros cursos de teatro antes deste, que me deram uma base boa. Mas, sem dúvida, o formação foi uma revolução! Como tantas outras que aconteceram na minha vida. E viva as revoluções!!!

*Sou a favor de todas as revoluções, desde que sejam para evoluir.


ps: Em breve - ok, talvez não tão breve devido a falta de tempo - novos textos teatrais serão publicados; bem como, novos posts-devaneios (ainda em fase de produção).
[ ]'s desta que vos escreve, saudosa!

6 comentários:

Lari Bohnenberger disse...

Hehehehe! Coitada dessa Mariana! Ehehehe!

Bem, eu vi a amiga atuando uma única vez, mas posso dizer com certeza que és uma excelente atriz!

Bjs!

Proud Mary disse...

Ai amiga... obrigada!!!! :D :D

ps: este ano volto ao mundo do teatro, sem dúvidas... já estou sofrendo de abstinência... eheh

Vivi Rasia Cardoso? disse...

Mari,

M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O!!!!

Não sabia dessa história...

Bjos

Unknown disse...

Onde posso conseguir a tradução completa do Juiz dos divorcios.

L. Bazua

Proud Mary disse...

Oie Lorenzo!

Eu consegui a tradução completa com o TEPA - Teatro Escola de Porto Alegre - que na época dessa prova disponibilizou o livro no xerox para os candidatos.

Você já procurou na biblioteca pública?

[ ]'s

.: Elisa :. disse...

Oi Mary! Tu tens algum material sobre o Miguel de Cervantes ou alguma pesquisa interessante que tenhas feito sobre o Juiz dos Divórcios. Estou pesquisando, mas qualquer ajuda é bem vinda. Obrigada!!